Introdução: Estudos recentes avaliaram o valor preditivo da elastografia hepática transitória, combinada ou não com contagem plaquetária, para a presença de varizes esofágicas em doentes com cirrose hepática, e foram propostos vários valores de corte. O consenso de Baveno VI afirma que doentes com doença hepática crónica avançada compensada, elastografia hepática <20 kPa e >150,000 plaquetas têm muito baixo risco de varizes com necessidade de tratamento, podendo evitar endoscopia de rastreio. Pretendemos validar esta recomendação numa coorte de doentes cirróticos. Métodos: Análise retrospectiva dos doentes avaliados no Serviço de Gastrenterologia (Centro Hospitalar de Lisboa Central) entre Setembro 2009 e Outubro 2015 com elastografia hepática (FibroScan ® ) compatível com cirrose hepática e análises num intervalo até 12 meses desde a elastografia. Doentes sob propranolol ≥ 80 mg/dia ou carvedilol ≥ 12.5 mg/dia, assim como aqueles com antecedentes de hemorragia variceal, tratamento endoscópico de varizes ou descompensação de cirrose foram excluídos. Validámos a nova recomendação de Baveno VI e explorámos valores de corte alternativos. Resultados: Noventa e sete doentes foram analisados, 76.3% (74/97) homens, idade média 54.3 ± 11.2 anos. A maioria dos doentes (55.7%) não tinha varizes, 14.4% tinha varizes com indicação para tratamento. A maioria dos doentes (78.4%) tinha cirrose relacionada com hepatite C. Se a nova recomendação de Baveno VI tivesse sido aplicada nesta coorte, a endoscopia de rastreio teria sido evitada em 11.3% (11/97) dos doentes, nenhum com varizes com indicação para tratamento: especificidade 100%, sensibilidade 13.3%, valor preditivo positivo 100% e valor preditivo negativo 16.3% para ausência de varizes com indicação para tratamento. Se a endoscopia de rastreio fosse evitada nos doentes com elastografia hepática <30 kPa e >120,000 plaquetas, teria sido evitada em 27.8% (27/97) destes doentes, nenhum com varizes com indicação para tratamento: especificidade 100%, sensibilidade 32.5%, valor preditivo positivo 100% e valor preditivo negativo 20% para ausência de varizes com indicação para tratamento. Conclusão: Os novos critérios de Baveno VI identificaram doentes com cirrose compensada e sem varizes com indicação para tratamento, em que se podia ter evitado com segurança a endoscopia de rastreio. São necessários mais estudos para confirmar estes resultados e explorar valores de corte mais ambiciosos, mas seguros.
Introduction: Recent studies assessed the predictive value of liver transient elastography, combined or not with platelet count, for the presence of esophageal varices in patients with liver cirrhosis, and multiple cutoffs have been proposed. The Baveno VI consensus states that patients with compensated advanced chronic liver disease, liver stiffness <20 kPa, and a platelet count >150,000 have a very low risk of having varices requiring treatment and can avoid screening endoscopy. We aimed to validate this recommendation in a cohort of cirrhotic patients. Methods: Retrospective analysis of all patients evaluated at the Gastroenterology Department (Centro Hospitalar de Lisboa Central) between September 2009 and October 2015 with a liver stiffness (FibroScan ® ) compatible with liver cirrhosis as well as upper endoscopy and blood tests within 12 months from elastography. Patients on propranolol ≥ 80 mg/day or carvedilol ≥ 12.5 mg/ day, as well as those with previous variceal bleeding, variceal endoscopic treatments, or cirrhosis decompensations were excluded. We validated the new Baveno VI recommendation and explored alternative cutoffs. Results: Ninety-seven patients were analyzed, 76.3% (74/97) male, mean age 54.3 ± 11.2 years. Most patients (55.7%) had no varices and 14.4% had varices requiring treatment. Most patients (78.4%) had cirrhosis related to chronic hepatitis C. If the new Baveno VI recommendation had been applied to this cohort, upper endoscopy would have been avoided in 11.3% (11/97) of patients, none of them with esophageal varices requiring treatment: specificity 100%, sensitivity 13.3%, positive predictive value 100%, and negative predictive value 16.3% for absence of varices requiring treatment. If screening endoscopy had been avoided in those patients with liver stiffness <30 kPa and platelet count ≥ 120,000, endoscopy would have been avoided in 27.8% (27/97) of patients, none of whom with esophageal varices requiring treatment: specificity 100%, sensitivity 32.5%, positive predictive value 100%, and negative predictive value 20% for absence of varices requiring treatment. Conclusions: The new Baveno VI criteria identified compensated cirrhotic patients without varices requiring treatment in whom screening endoscopy could havebeen avoided safely. Further studies are needed to confirm these findings and potentially explore more ambitious but still safe cutoffs for those criteria.